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A multiculturalidade vivenciada na prática

Fernanda Rodrigues

16 de maio de 2023

Uma reflexão sobre o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento e sua presença no dia a dia brasileiro

Todo mundo sabe que o processo de globalização transformou nosso planeta em um espaço sem fronteiras. Por meio de viagens cada vez mais acessíveis e da internet é possível conhecer e manter contato com diversos idiomas e culturas, de modo a expandir nosso conhecimento nos âmbitos pessoal, social e profissional. Da mesma forma, é possível reforçar e divulgar as nossas raízes. Como professora, tanto de português brasileiro como língua materna, quanto de inglês como língua estrangeira, sempre me pego refletindo sobre quais são os pontos de conexão e quais são as singularidades que o pensar e viver nesses dois idiomas apresentam não só a mim, mas também aos meus alunos e a todos que convivem conosco.

Diversidade Cultural presente

Em 21 de maio é comemorado o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento, data escolhida pela Unesco (divisão da Organização das Nações Unidas responsável pela Educação, Ciência e Cultura) para chamar a atenção para o estabelecimento de diálogo que fomente a paz e o desenvolvimento sustentável entre nações através da expressão da riqueza multicultural de seus países-membros. Algo que pode parecer distante, mas que está impregnado em nosso dia a dia.

Moro em São Paulo (Brasil), a maior cidade da América Latina e a quarta maior do mundo, segundo a própria Organização das Nações Unidas. Minha cidade vive o multiculturalismo, e eu posso reconhecer em cada esquina o quanto ele é importante para a nossa grandiosidade. Aqui há bairros inteiros fundados e habitados por uma infinidade de povos e seus descendentes: japoneses, na Liberdade; italianos, nas regiões do Bexiga, do Brás, da Mooca e da Barra-Funda; indígenas, no Jaraguá e em Parelheiros; africanos, no centro; coreanos, chineses e judeus no Bom Retiro... a lista é interminável, e é interessante notar como, apesar de formarem suas comunidades locais, essas pessoas transitam na metrópole, levando seus saberes e combinando-os uns com os dos outros.

Talvez por isso mesmo, em 1997, São Paulo recebeu o título de Capital Mundial Gastronômica. Em nossa cidade abrigamos restaurantes de 43 países diferentes, o que lhe confere o status de “a maior diversidade de culinária típica em uma capital”, conforme registrou o jornal Folha de São Paulo à época. Essa multiculturalidade já está tão inserida em nossa vivência, que muitas vezes nem pensamos muito sobre isso. Um exemplo prático é como ela aparece no nosso calendário, na arquitetura das ruas e no modo de agir de quem nasce por aqui, como quando reunimos os amigos para ir à feira gastronômica com comida japonesa, que acontece todos os finais de semana no bairro da Liberdade, na celebração do Ano Novo Chinês ou naquela que é tida como a mais tradicional festa italiana do Brasil, a de Nossa Senhora de Achiropita, em que são montadas barracas de comidas nas ruas adjacentes à da igreja de Nossa Senhora de Achiropita, e as senhoras do bairro do Bexiga — carinhosamente apelidadas de nonnas — fazem todos os tipos de massas e doces italianos para vender. Além das comidas, há grupos que fazem apresentações de música e dança típicas da Itália para entreter o público. O encontro de pessoas de todos os pontos da cidade para manter essas tradições vivas se convertem em acesso a diferentes culturas para milhares de pessoas.

Este intercâmbio de cultura não se dá apenas na gastronomia. Ainda na descendência italiana, temos o médico, comunicador e escritor Drauzio Varella. Autor de vários livros, dentre eles Estação Carandiru, Drauzio teve sua obra adaptada para o cinema pelo cineasta Héctor Babenco e lançada sob o nome de Carandiru: O filme. Do Japão, por sua vez, a cidade recebeu a influência da artista plástica Tomie Ohtake. Tomie chegou ao Brasil em 1936 e, impedida de regressar à sua terra natal por conta da Guerra do Pacífico, fez daqui sua morada: casou-se, criou os dois filhos e começou uma carreira artística de sucesso aos 40 anos de idade. Em São Paulo, até hoje é possível ver suas obras em diversos pontos, a exemplo das presentes na Avenida 23 de Maio, no Anhangabaú, na Cidade Universitária, no Auditório Ibirapuera e no Auditório do Memorial da América Latina. Entretanto, Tomie Ohtake e sua influência japonesa também se espalharam por outras cidades brasileiras como Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília, Araxá e Ipatinga. Ao longo de sua carreira, a artista também teve a chance de levar a sua arte de volta à sua terra natal, no Japão.

Esses exemplos nos mostram a importância de uma data como o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento, já que celebrar a diversidade cultural é uma forma de honrar todas as pessoas que construíram, e até hoje contribuem, para que a cidade de São Paulo e o Brasil como um todo sejam tão grandes, não só geográfica e economicamente, mas também em patrimônio imaterial: seja na fala, na culinária, na dança, na música ou em tantas outras manifestações socioculturais.

A importância do diálogo

Assim como acontece na minha cidade, a ONU vê essa multiculturalidade como modo de promover diálogos que contribuam para o desenvolvimento humano. Como professora, entendo que o diálogo promove acolhimento e ponte. Essa prática é fundamental para que estudantes e professores de idiomas continuem seus estudos e alimentem tanto a curiosidade de conexão com novas culturas, quanto a empatia com outros povos. Não se aprende um idioma para ficar preso às quatro paredes da sala de aula, mas justamente para garantir a propagação dessa multiculturalidade de que esta data tanto nos lembra.

Quando falo em empatia, digo isso porque sempre reforço para os meus alunos que não se aprende ou se aperfeiçoa as habilidades linguísticas simplesmente por fazer. Nos empenhamos em nossos estudos para nos relacionar com outras pessoas: fazer amigos, estabelecer negócios, formar famílias. Isso pode acontecer em uma viagem para fora do país ou na nossa cidade natal mesmo. São Paulo, por exemplo, abriga grandes empresas e recebe turistas do mundo inteiro para eventos importantes como o Carnaval, a parada LGBTQIAP+, grandes festivais de música, Fórmula 1 e a corrida de rua São Silvestre. Além disso, o fluxo migratório cresceu bastante devido à pandemia de COVID-19 e aos conflitos bélicos na Europa, em outros países latinos e no Oriente Médio. Muitas dessas pessoas não estão aqui só de passagem. Ao contrário dos turistas, vieram para ficar. Saber se comunicar, conseguir não só entender o outro e sua cultura, mas também ser entendido e ter a própria cultura valorizada permite que se criem laços e se conviva de modo sustentável e pacífico.

Luta por apoio, direitos, integração e paz

Vale reforçar ainda que o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento marca não só a celebração da multiculturalidade, tão presente no nosso dia a dia, mas é também uma data de luta por uma sociedade mais respeitada e justa. Como disse acima, muitas vezes não pensamos como as múltiplas culturas nos são presentes diariamente, sendo assim, é fundamental que nos lembremos de que esse dia marca o aprofundamento de discussões acerca de quatro objetivos estabelecidos pela UNESCO:

  • Apoiar sistemas sustentáveis de governança para a cultura, conscientizando sobre a importância do diálogo intercultural, da diversidade e da inclusão;
  • Alcançar um fluxo equilibrado de bens e serviços culturais e aumentar a mobilidade de artistas e profissionais da cultura, fazendo com que todas as pessoas se comprometam e apoiem a diversidade através de ações genuínas no próprio dia a dia;
  • Integrar a cultura nas estruturas de desenvolvimento sustentável;
  • Promover os direitos humanos e as liberdades fundamentais, combatendo a polarização e os estereótipos para melhorar o entendimento e a cooperação entre as pessoas de diferentes culturas.

Como celebrar

Há várias maneiras de dar vida a esses quatro objetivos propostos pela UNESCO, ainda mais se pensarmos que a cultura de um povo é parte importante na constituição individual de cada um.

Se você estiver em São Paulo, pode visitar alguns museus e espaços culturais que nos ajudam a pensar sobre essa temática tão importante. São eles:

Além disso, de um modo geral ainda é possível escrever um livro, abrir um blog, gravar vídeos e podcasts mostrando a nossa cultura, se inscrever em um processo seletivo para uma universidade ou para uma vaga de emprego em uma multinacional, fazer trabalho voluntário em um lugar diferente, divulgar boas ações locais nas redes sociais, aprender o idioma das pessoas com quem interagimos. Neste quesito a Altissia pode ajudar, uma vez que, em sua plataforma, estrangeiros podem aprender português (tanto a variante brasileira quanto a europeia) e falantes da língua portuguesa podem estudar outros 24 idiomas (búlgaro, francês canadense, croata, tcheco, dinamarquês, holandês, inglês, estoniano, finlandês, francês, alemão, grego, húngaro, italiano, letão, lituano, inglês norte-americano, polonês, romeno, eslovaco, esloveno, espanhol, sueco e turco).

Ao aprender e continuar estudando um novo idioma na plataforma da Altissia, alunos e professores podem não só comemorar o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento em 2023, mas também todos os próximos que virão.

Referências:

  • Drauzio Varella. Drauzio. Acesso em 14 de abril de 2023.
  • Folha de São Paulo. SP receives the title of gastronomic capital of the world. Acesso em 10 de abril de 2023.
  • Globo G1. Immigrant’s Day: city of SP has more than 360 thousand foreigners living legally. Acesso em 10 de abril de 2023.
  • Tomie Ohtake Institute. Tomie Ohtake. Acesso em 14 de abril de 2023.
  • Nossa Senhora Achiropita. The party. Acesso em 14 de abril de 2023.
  • United Nations. UN marks World Day for Cultural Diversity for Dialogue and Development. Acesso em 10 de abril de 2023.
  • United Nations. Protecting the diversity of cultural expressions is more important than ever. Acesso em 10 de abril de 2023.
  • United Nations. Protecting our cultural diversity is more important than ever. Acesso em 10 de abril de 2023.
  • World City Populations 2023. World Population Review. Acesso em 10 de abril de 2023.